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O ouro de tolo do Brasil que finge investir nos esportes olímpicos

Foto de Joanne Roriz/COB Julho Cesar Guimarães/COB e Lucas Figueiredo / CBF

Por Fernando Duarte

Os ciclos olímpicos no Brasil não são marcados apenas por histórias de superação ou de superatletas, que fazem brotar a esperança de um país melhor. A cada quatro anos acompanhamos as promessas de gestores públicos de que o esporte será uma prioridade por essas bandas e que na próxima Olimpíada teremos mais e mais medalhas com o apoio do Estado. São as velhas promessas vazias que, quando se concretizam, não são acompanhadas de investimentos públicos reais para que haja a inserção do esporte no dia a dia da população, especialmente nos setores em maior condição de vulnerabilidade social e econômica.

Os exemplos de Isaquias Queiroz, Ana Marcela e Hebert Conceição - para ficar apenas com os ouros - são pontos fora da curva. Eles se tornaram atletas de alta performance sem apoio estatal e só então passaram a ser beneficiados por algum tipo de incentivo por parte dos governos. Eles têm talento e aptidão e todos chegaram ao topo do pódio por circunstâncias que envolvem dedicação, empenho, apoio de alguns gatos pingados e um quê de sorte. Porque, para cada herói olímpico que vemos nascer a cada quatro anos, assistimos com naturalidade o genocídio de uma juventude vítima da incompetência histórica do poder público. Vamos exaltar esses atletas - incluindo também a prateada Bia Ferreira -, mas sabendo que eles estão ali, nos representam enquanto nação, mas por vezes foram renegados pelo próprio discurso de que premiamos a meritocracia. Não. Enterramos sonhos e jovens promessas pela falta de uma política pública eficiente, que permita encontrar novos medalhistas desde muito jovens até se tornarem a referência que os citados se tornaram.

Ah, mas nunca antes na história desse país houve tantos recursos empregados para a promoção dos esportes olímpicos, vamos ouvir. Sim, existem iniciativas que garantem um mínimo de estrutura e treinamento para esses atletas. Entretanto, é muito pouco para o potencial que sabemos que poderia ser aproveitado e escorre pelos corredores da burocracia, na inoperância, da falta de espírito desportivo e da própria ausência de Estado. Os países que se destacam nos Jogos Olímpicos não chegam a esse patamar ao apenas cultuar histórias de faltas de oportunidades que criaram míticos brasileiros para o Olimpo dos esportes. Eles enxergam a prática esportiva como um conceito essencial de uma nação e, convenhamos, o Brasil está longe desse patamar.

Na Bahia, para ficar num exemplo bem restritivo, temos o Centro Panamericano de Judô, um elefante-branco que ainda não mostrou para que veio, um Centro de Canoagem, que só nasceu depois que Isaquias se tornou Isaquias, e uma promessa de Centro de Boxe, que sequer saiu do papel, mas já nasceria com dois ouros com Robson Conceição e Hebert Conceição e a prata de Bia Ferreira. Pena que esses dois últimos não tiveram a chance de treinar no complexo desportivo prometido no ciclo da Rio 2016 - e talvez nem sigam até Paris 2024, já que Robson preferiu lutar profissionalmente ao invés de conviver com a falta de infraestrutura para um boxeador olímpico.

O Brasil encerrou Tokyo 2020 fazendo história. A Bahia, então nem se fala. Trouxe três ouros e uma prata em esportes individuais mesmo que essa celebração deva ser feita especialmente ao atletas, que superaram todas as dificuldades para dar um alento a esse povo tão sofrido. Até quando vamos ficar comemorando a conquista dos outros sem efetivamente apoiá-los? Haja ciclos olímpicos. Obrigado, Isaquias, Ana Marcela, Hebert, Bia e Daniel Alves. Vocês nos representam. E também todos aqueles que lá estiveram levando nossas cores (Keno Marley e Jacky Goldman, vibramos juntos). Que consigamos acordar enquanto sociedade e Estado para investir em muitos outros como vocês!!!


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