Salvador: Babá agredida pela patroa diz que desmaiou porque, além da violência, ficava sem comer
“Não tem corpo que aguente ficar sem alimentação, sem beber e ainda recebendo pancada. Eu lembro que minha cabeça começou a rodar e eu ficava sem conseguir respirar direito”, disse a babá.
O desmaio aconteceu por volta das 6h30 do dia em que ela pulou da janela para fugir do imóvel. Depois de uma sequência de tapas, socos, chutes e puxões de cabelos, Raiana levanta e se aproxima de uma porta de vidro para respirar. Ela se desequilibra e cai desacordada. Durante a queda, a babá chega a se chocar contra uma das filhas de Melina, que também cai no chão.
Raiana disse que a decisão de pular a janela foi um ato de desespero. Ao saber das imagens registradas pelas câmeras dentro do apartamento, ela disse que é importante para serem usadas no processo contra a ex-patroa, mas não consegue assistir o vídeo das agressões.
“É um momento difícil porque mesmo lá, dentro vivendo tudo isso em desespero, a gente só queria sair dali. E vendo as imagens, é mais difícil. É muito triste passar pelo que eu passei. Nem eu consigo ver toda hora. Muito importante [as imagens serem usadas no processo], mas eu prefiro não estar vendo as imagens”, comentou.
É possível ver uma terceira mulher no apartamento durante as agressões. Ela presencia toda a ação, mas em nenhum momento tenta impedir que Melina França prosseguisse desferindo os tapas e socos contra Raiana.
A babá disse que a mulher chegou no imóvel na terça-feira, 24 de agosto, um dia antes dela ter pulado a janela do apartamento. Raiana, no entanto, afirma que ela não era outra empregada, e não sabe afirmar qual a relação entre as duas.
“Eu não sei quem é essa mulher. Ela entrou [na casa] na terça-feira. Mas o que ela é de Melina, eu não sei. Ela não é empregada doméstica e eu não sei dizer se era parente. Ela não impede as agressões, não pede ajuda, não faz nada.
A defesa da empregada disse que os vídeos serão utilizados para endossar as acusações contra Melina e poderão provar os crimes que aconteceram no apartamento. Segundo o advogado Bruno Oliveira, vários crimes poderão ser investigados com base nas imagens registradas.
“Diante daquelas imagens, que são preliminares (ainda têm muitas imagens a serem analisadas, tendo em vista que ela começou a ser agredida na terça-feira pela manhã), crime de tortura, cárcere privado e o Ministério Público do Trabalho está apurando para um inquérito civil referente ao trabalho análogo ao escravo", comentou.
Além de Raiana, pelo menos outras 11 mulheres registraram ocorrência contra Melina Esteves França, de acordo com a Polícia Civil. Sete ocorrências são apuradas na 12ª Delegacia Territorial, em Itapuã, e outras cinco na 9ª Delegacia, no bairro da Boca do Rio.
Segundo o advogado Bruno Oliveira, todas as denúncias são semelhantes. As mulheres alegam que ela praticava agressões físicas e ameaças, tomava aparelhos celulares, não obedecia horários acertados para o serviço e, em alguns casos, não pagou pelos dias trabalhados.
A Polícia Civil informou que a 9ª Delegacia Territorial, da Boca do Rio, segue investigando o caso. O órgão disse que as imagens já haviam sido apuradas e foram encaminhadas à perícia. Ainda de acordo com a polícia, todas as babás já foram ouvidas, nas duas delegacias, e o Departamento de Polícia Metropolitana (Depom) segue monitorando o caso. Conteúdo do G1
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