Jerônimo Rodrigues e o Campo Minado de 2026: Como o Panorama Nacional Desafia a Reeleição na Bahia
Jerônimo enfrenta demandas urgentes na Bahia que testarão sua popularidade: segurança pública e educação estão no topo. A violência, impulsionada por facções como PCC e Comando Vermelho, desafia a narrativa de controle do governo, enquanto o passado de Jerônimo como secretário de Educação (2019-2022) – criticado pelo IDEB estagnado – segue como ponto fraco. Rui Costa, seu antecessor e atual ministro da Casa Civil de Lula, deixou um legado de obras e gestão que Jerônimo precisa manter ou superar. Se ele entregar resultados – como a ponte Salvador-Itaparica, promessa de Rui ainda em andamento –, poderá se fortalecer. Mas o cenário nacional amplifica tudo: um Lula bem-sucedido em Brasília pode dar a Jerônimo o respaldo para brilhar; um Lula em crise pode arrastá-lo para baixo.
A vitória de Jerônimo em 2022 foi um esforço conjunto. Lula, com 69% dos votos na Bahia contra Bolsonaro, foi o motor da campanha; Rui Costa, governador popular até 2022, pavimentou o caminho; e Jaques Wagner, senador e ex-governador, costurou as alianças. Para 2026, esse trio será novamente crucial – mas com riscos. Lula, se disputar a Presidência aos 81 anos e mantiver a força (42,5% nas intenções de voto, segundo AtlasIntel/Bloomberg 2025), pode turbinar Jerônimo. Porém, um desgaste federal – econômico ou político – respingará na Bahia, onde Rui e Wagner também jogam seus futuros
Rui Costa, agora no coração do governo Lula, é um trunfo e uma pressão. Como ministro, ele negocia com o Centrão e canaliza recursos para a Bahia, mas sua ambição de voltar ao Senado em 2026 (ou até ao governo em 2030) pode gerar tensões na chapa. Jaques Wagner, buscando reeleição ao Senado, quer manter o PT baiano unido, mas sua influência depende de não haver rachas com aliados como o PSD. Se Rui e Wagner disputarem espaço ou se o PT insistir em uma chapa “puro-sangue” (Jerônimo, Rui e Wagner juntos), a base aliada pode se fragmentar, enfraquecendo o governador
Jair Bolsonaro (PL), inelegível até 2030 por abuso de poder, não estará nas urnas, mas sua sombra paira sobre 2026. Com 31% dos votos na Bahia em 2022, ele comanda uma base fiel que o PL e o União Brasil querem capitalizar. ACM Neto, provável adversário de Jerônimo, já mostrou força nas municipais de 2024, vencendo em 22 das 30 maiores cidades baianas, incluindo Salvador com Bruno Reis. Se Bolsonaro endossar Neto, a direita ganhará fôlego, unindo bolsonaristas e antipetistas. Rui Costa, desde Brasília, tenta neutralizar isso com emendas parlamentares, mas o apelo emocional de Bolsonaro pode superar cálculos pragmáticos
No plano nacional, a sucessão de Bolsonaro agita as águas. Tarcísio de Freitas (Republicanos), reeleito em São Paulo, e Ronaldo Caiado (União Brasil), que mira a Presidência desde Salvador, disputam o legado da direita. Uma divisão entre eles pode beneficiar Jerônimo; uma união em torno de Neto, com apoio de Bolsonaro, será um pesadelo para o PT baiano
O Congresso Nacional, dominado pelo Centrão (PL, PP, Republicanos), é um fiel da balança. Rui Costa, como articulador de Lula, negocia com esses partidos para garantir governabilidade e recursos – muitos dos quais chegam à Bahia. Mas o Centrão é volátil: apoiou Neto nas municipais de 2024 e pode pender para a direita em 2026 se Lula perder força. Na Bahia, Jerônimo depende do MDB e do PSD, mas o senador Angelo Coronel (PSD), que quer se reeleger, já critica o hegemonismo do PT. Wagner tenta mediar, mas, se o Centrão nacional virar as costas, a base estadual sentirá o golpe.
A Bahia de 2026 repetirá a lógica nacional: o PT domina o interior (309 prefeituras em 2024), mas perde nas grandes cidades como Salvador e Feira de Santana. Rui Costa construiu essa fortaleza rural com programas sociais e obras; Jerônimo precisa mantê-la enquanto reconquista o eleitor urbano, onde Neto avança. Nacionalmente, a direita cresce nas capitais – vide São Paulo com Ricardo Nunes e Tarcísio –, e Jerônimo terá que equilibrar o discurso petista com promessas locais tangíveis
A briga entre Lula e Bolsonaro, viva desde 2018, definirá o tom de 2026. Bolsonaro, mesmo fora da disputa, alimenta o antipetismo; Lula, o antibolsonarismo. Na Bahia, isso coloca Jerônimo contra Neto em um embate nacionalizado. Rui e Wagner apostam na força de Lula para mobilizar a militância, mas, se a polarização favorecer a direita – como em 2024 nas municipais –, o PT pode perder o fôlego
Jerônimo Rodrigues enfrentará em 2026 uma eleição onde o sucesso depende de três frentes: resultados na Bahia, a força de Lula e a coesão com Rui Costa e Jaques Wagner. ACM Neto, turbinado por Bolsonaro e pela direita nacional, será um adversário feroz. O Congresso e o Centrão, com Rui como ponte, podem salvar ou afundar o projeto. Em um Brasil dividido, a Bahia será um microcosmo da luta entre PT e seus rivais – e Jerônimo, mais do que nunca, precisará provar que é mais que um herdeiro de gigantes
Por Zé Caboclo – Cronista Político
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