Crônica: A Roda-Gigante do Poder
Mario sempre foi um homem de confiança e fidelidade. Ele olhava para as pessoas com um jeito fanfarrão, mas também com uma generosidade que poucos entendiam. Muitas vezes, ele teve sinais de que nem todos ao seu redor eram leais, mas preferia ignorar, acreditando no melhor de cada um. Afinal, para Mario, a política era mais do que poder: era sobre construir relações e ajudar quem precisava.
Nos seus oito anos à frente da prefeitura, Mario era como um imã: onde ia, levava uma comitiva de puxa-sacos, bajuladores e "amigos" que, na verdade, estavam mais interessados na boquinha do que na amizade. Era foto aqui, selfie ali, abraços e sorrisos que pareciam eternos. Muitos desses bajuladores se beneficiaram diretamente do governo de Mario: formaram filhos, compraram bens, construíram patrimônios. Enquanto Mario trabalhava, eles aproveitavam as oportunidades que o poder oferecia.
Entre esses beneficiados estavam vereadores de primeiro mandato, que devem suas cadeiras à máquina política de Mario, e vereadores reeleitos, que consolidaram suas carreiras graças ao apoio dele. Na época, eram os primeiros a aparecer em eventos, os primeiros a levantar a mão em apoio, os primeiros a pedir selfies. Mas, como diz o ditado, "o poder não muda as pessoas, apenas revela quem elas realmente são".
Hoje, quatro meses após deixar a prefeitura, Mario vive uma realidade diferente. Nas ruas, nos blocos de Carnaval, nas reuniões políticas, ele já não é mais o centro das atenções. Vereadores que antes corriam atrás dele para tirar fotos agora desviam o olhar. Secretários que foram diretamente ajudados por ele agora parecem não reconhecê-lo. Colaboradores que foram diretamente beneficiados por ele — alguns até empregados em cargos de confiança — agora murmuram que foram "prejudicados" por suas decisões. Ironia: quando estavam sob sua asa, chamavam-no de "visionário"; hoje, na queda, inventam críticas para justificar o abandono.
E o que vemos é um Mario mais solitário, mas também mais consciente. Ele liga para muitos, mas só um ou dois amigos fiéis atendem. A vida, como a roda-gigante, ensina que nem todos que sobem com você estarão lá na descida.
Mas há uma coisa que ninguém pode tirar de Mario: sua medicina. Médico de formação, ele agora retorna à sua profissão com o mesmo carisma e profissionalismo que sempre o caracterizaram. Provavelmente, Mario voltará a atender na COTI, levando adiante o legado deixado pelo saudoso pai, Mario Alves, um nome que marcou gerações na medicina de Ilhéus. Enquanto a política pode ser ingrata, a medicina é uma vocação que não depende de votos ou cargos. Mario vai continua atendendo pessoas, cuidando de vidas e fazendo a diferença de uma forma que vai além dos holofotes.
Agora, a atenção se volta para Soane Galvão, sua esposa e deputada, que parece estar em um jogo de xadrez político: será que vai disputar a reeleição, ou será o próprio Mario o candidato? Enquanto isso, Mario observa de longe, talvez lembrando dos tempos em que era ele quem movia as peças no tabuleiro.
Mas nem tudo é tristeza. A vida política, como a roda-gigante, também ensina lições valiosas. Mario vai descobrir agora quem são os verdadeiros amigos, aqueles que não o abandonaram quando o poder foi embora. E, no fim das contas, isso vale mais do que qualquer cargo ou comitiva.
A crônica de Mario Alexandre é a crônica de muitos políticos: um retrato da ingratidão, mas também da resiliência. Porque, no fim do dia, a roda-gigante continua girando, e quem sabe o próximo giro não traz de volta o topo?
Por: Carlos Clarus - Cronista Politico e professor
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