“Tragédia em Ilhéus evidencia responsabilidades sobre a segurança pública”
Ilhéus, como tantas outras cidades baianas, tem sofrido com o avanço da violência. O assassinato brutal de três mulheres, ocorrido recentemente, revisitou, mais uma vez, a vulnerabilidade de nossa cidade. A polícia segue empenhada na investigação do crime e na busca por respostas, mas a comoção coletiva expõe um desafio que vai além do esclarecimento de um caso: como o município pode contribuir para evitar que novas tragédias aconteçam?
O prefeito Valderico Júnior, em sua manifestação pública, preferiu atribuir as responsabilidades ao Governo do Estado e às dificuldades herdadas da gestão anterior. Tal postura abre um espaço inevitável para reflexão: até que ponto um governo municipal pode se limitar a transferir a culpa e ignorar o peso das obrigações que lhe cabem? Em momentos como este, mais do que apontar falhas alheias, é preciso assumir responsabilidades próprias.
O município não tem o poder de comandar as polícias, é verdade. Mas tem em suas mãos instrumentos fundamentais para construir ambientes mais seguros. É dever da administração municipal zelar pela manutenção dos arredores das praias, garantindo que os espaços não sejam tomados pelo matagal e pelo abandono. Já foram na Praia da Avenida ? Espaço caótico que necessita urgente de zeladoria e que pode ser uma área para execução de crimes da forma que está . Ou vamos esperar que outra tragédia ocorra?
É responsabilidade da gestão investir em iluminação, em espaços de convivência bem cuidados, em políticas de esporte, lazer e cultura que afastem os jovens da criminalidade. É papel da Prefeitura organizar sua Guarda Civil, integrando-a às ações preventivas da cidade e ampliando sua presença em áreas sensíveis. É tarefa da Secretaria de Saúde pensar programas de saúde mental e enfrentamento às drogas, enquanto a Secretaria de Políticas para as Mulheres deve trabalhar na promoção de ações firmes contra a violência de gênero, ainda mais quando a hipótese de feminicídio se torna uma linha de investigação.
Um governo municipal precisa funcionar como uma corrente em que cada elo tem sua função, e nenhum pode se dar ao luxo de enfraquecer. O combate à violência depende da união dessas forças, mas também do diálogo institucional. Não importa se o governador e o prefeito pertencem a campos políticos distintos: a vida da população deve estar acima de rivalidades eleitorais. A segurança pública só será efetiva se for tratada como responsabilidade compartilhada, com esforços conjuntos e integrados entre Estado e município.
O que Ilhéus precisa hoje não é de discursos que disputam culpados, mas de lideranças que inspirem confiança e demonstrem, na prática, que estão tomando providências. O prefeito deve à população não apenas a indignação diante da tragédia, mas a apresentação clara de medidas que indiquem caminhos de prevenção. O silêncio das ruas mal iluminadas, o mato alto em diversos trechos da orla e a falta de manutenção regular das praias são também sinais de omissão do poder local sem contar na falta de monitoramento eletrônico ponto que contribuiu diretamente para o caso ainda não ser desvendado e apresentado a população.
Se a violência é reflexo de uma estrutura maior, a omissão do município pode agravar o problema. É preciso coragem política para assumir que segurança não se constrói apenas com polícia, mas com cidade organizada, espaços cuidados, inclusão social e gestão comprometida. O que se espera do prefeito de Ilhéus não é que se coloque como espectador crítico de um problema estadual, mas que se erga como protagonista de soluções que devolvam à cidade o direito de viver sem medo.
Por: Emenson Silva coordenador do curso Gabaritando
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